Capitulo 55

Capitulo dedicado à Luiza Rampinelli ;)

Levei um grande susto quando o médico disse aquilo, se estivesse em pé eu teria caído. A sensação era de que um caminhão havia passado em cima de mim.
-A doença está no estágio inicial. Então com tratamentos é possível que ele saia dessa.
-Quanto de chance ele tem?- Luan perguntou, temi a resposta
-Ele tem 99% de chance. Vocês precisam ser fortes, para ajudar ele e não deixar que a doença o vença.
-Aqui em São Paulo tem tratamento eficaz para a doença dele?- Luan perguntou
-Sim. Mas, caso não seja suficiente podemos mandar ele para os Estados Unidos.
-Não é melhor mandar ele já pra lá?- perguntei
-Não. O melhor a fazer é deixar ele manter sua rotina. Com observação, é claro.
-Tudo bem.
-Eu vou deixar vocês a sós um minuto, e já volto.- o médico se levantou e saiu da sala
-Como você não percebeu nada?- Luan me acusou, vi seus olhos cheios de lágrimas, assim como os meus
Abri a boca e não consegui dizer nada, eu estava completamente sem forças. As lágrimas escorreram sobre meu rosto, e eu permaneci calada.
-Hein Laura?- Luan segurou meu braço
-Por que você está me acusando?- minha voz saiu como um sussurro, olhei para ele que soltou meu braço
-Desculpa.- ele falou baixinho
-Você tá falando como se a culpa fosse minha.- me levantei, deixando mais uma vez as lágrimas escorrerem pelo meu rosto
-Eu não quis dizer isso...- ele também se levantou- Desculpa Laura.- ele se aproximou de mim, virei o rosto para não encara-lo
O barulho da porta fez Luan se distanciar de mim.
-Os exames vão ficar prontos em três dias.- o médico disse entrando na sala
Enxuguei minhas lágrimas, e me sentei. Luan fez o mesmo.
-Como é o tratamento Doutor?- perguntei
-Primeiro precisamos descobrir qual tipo de leucemia ele está.- ele sentou em sua cadeira- Exitem três tipos de leucemia: Aguda, linfoide crônica e mieloide crônica.
-E qual é a mais grave?
-A leucemia aguda. Aonde o paciente precisa fazer quimioterapia e se não resolver é preciso fazer um transplante de medula óssea.
-E as outras?
-Bom, na leucemia linfoide crônica o tratamento é mais fácil, mas costuma aparecer mais em idosos.
-Então ele pode estar com leucemia aguda?- perguntei apavorada
-Talvez. Ele pode também estar com leucemia mieloide crônica.
-E como é o tratamento dessa?
-Com comprimidos, assim como a linfoide. Pois essa leucemia é causada por um defeito genético.
-E o que a gente faz agora?
-Agora o que vocês tem que fazer é esperar! Eu recomendo que fiquem com ele, e não tratem ele como um doente. Levem ele para um lugar que ele adora, e fiquem em família. Até o resultado dos exames.
-Obrigado Doutor!- Luan levantou e apertou a mão do médico
-Muito obrigada!- fiz o mesmo
Saímos da sala do médico, e eu fiquei parada no corredor. Não queria ver as pessoas e ter que contar que meu filho estava com leucemia, eu não queria aceitar isso. Não podia ser verdade.

‪#‎Narrador‬ ON
Laura ficou parada como uma estátua no meio do corredor. E Luan sentou no chão, encostando-se na parede. Os dois estavam completamente destruídos com a notícia.
Luan e Laura só voltaram a realidade quando uma enfermeira os chamou, avisando que eles poderiam ir ver Matheus.
-Ele vai receber alta hoje?- Luan perguntou
-Não. Ele só vai receber alta amanhã cedo. Quem vai passar a noite com ele?
-Eu!- os dois responderam juntos
-Nós dois!- Luan disse, para evitar discussão
-Mamãe! Papai!- Matheus disse todo sorridente ao ver os dois entrando no quarto
-Oi meu amor!
-E ai filhão?
-Tá doendo alguma coisa filho?
-Não.
-Nem o braço?
-Não. Mas me levaram para dentro de uma maquina.
-É para fazer exames em você filho.
-Ah! E eu vou ter que ficar aqui?
-Só hoje.
-Mas o papai e a mamãe vão ficar com você.
-Vocês dois?- ele sorriu
-Sim!
-E amanhã, depois que você sair daqui, nós vamos para a chácara.- Luan disse
-A mamãe vai junto?- Luan encarou Laura
-É claro, meu amor.
-Eba!
Juliane e Lucas foram ver Matheus. Eles já sabiam da doença do Matheus, mas preferiram não dizer nada. Quando os dois saíram, Matheus começou a fazer planos sobre o que fariam na chácara. Laura teve que segurar as lágrimas, que deixou escapar assim que seu filho dormiu.
Luan a puxou para perto de si, fazendo ela encostar a cabeça em seu ombro. Mesmo ela estando magoada com Luan, envolveu os braços em sua cintura, o abraçando. Nenhum pronunciou uma única palavra, os dois ficaram abraçados em silêncio. Estava nítido o quanto um precisava do outro naquela situação.

Assim que Laura dormiu, Luan deixou o quarto logo após dar um beijo em seu filho.
Luan saiu andando sem um destino certo pelos corredores do hospital. Ao chegar na área dos berçários, parou e ficou olhando os recém nascidos e as lembranças no dia que ele ganhou seu melhor presente vieram em sua mente. O dia em que o seu filho nasceu, seu filho que agora corria risco e vida e que ele se arrependia profundamente de não passar todo o tempo que tinha livre ao lado dele, pois por vários anos ele aproveitava suas folgas para fugir e transar com garotas que ele não sabia nome, endereço ou qualquer coisa, garotas com quem ele traia sua ex mulher, que agora é o amor da sua vida.
Luan se permitiu chorar o máximo que pode. Ele se encontrava em uma situação precária, não sabia que caminho seguir, não tinha forças pra continuar. Mas ele tinha uma certeza. Ele ficaria ao lado do seu filho, custasse o que custar.
(...)
Luan retornou ao quarto quando já estava amanhecendo. Ele encontrou a Laura na posição que ele à deixou ao sair, mas seu filho estava acordado, quietinho.
-Papai!- Matheus o chamou assim que o viu.
-E ai campeão!- Luan sorriu amarelo, ainda não haviam conversado com ele sobre a doença.
- Eu quero ir pra chácara papai!
-Vai ter que aguentar mais um pouco filho!- Luan suspirou, sentando na maca ao lado do Matheus.
-Você tava chorando papai?
-Não meu amor, papai só está com sono.
-Dorme junto com a mamãe!
-Eu vou dormir na viagem pra chácara, tudo bem?
-Ta! Papai, posso jogar no seu celular?
-ele ta no carro filho! O papai não pegou ele ontem.
-vai la buscar papai!
-Filho...
-Por favor.- Matheus fez bico e Luan não conseguiu negar.
-Tudo bem, fica aqui quietinho pra não acordar sua mãe, tudo bem?
-ta papai!
Assim que Luan saiu do quarto ele voltou a chorar. O único lugar onde ele conseguia se controlar era ao lado do seu filho.
Quando Luan estava voltando do carro, encontro Lucas. Luan tentou fingir que não o viu, mas Lucas o chamou.
-E ai cara?- Luan tentou sorrir.
-Luan, não se faz de forte pra mim não!- Lucas falou. - eu também gosto do Matheus, se eu sofri com a noticia eu posso imaginar você. - Luan assentiu.
- Como a Laura está?
-Mal.- Luan sussurrou. Era difícil lembrar da noite que eles passaram chorando em silencio, abraçados.
-Eu posso ver os dois?
-Não está no horário de visitas, depois você entra!- Luan deu de ombros.
Lucas concordou.
-Luan, não é mentira pra ninguém que a gente não se da bem, mas temos uma pessoa que nós dois amamos e queremos bem.- Luan sabia que ele se referia a Laura.- Eu sei que agora não é o momento, mas pensa, por favor, em como ela vai sofrer se você tirar a guarda do Matheus dela. Se ele estivesse com a saúde boa ela não aceitaria mas iria conseguir lidar com isso, mas agora, com a doença...
-Eu também vou sofrer o mesmo tanto que ela.- Luan rosnou.
-Eu sei Luan, mas...
-Nós temos direitos iguais. Temos muito o que conversar ainda, pode deixar que nós dois vamos nos resolver!
Luan deixou o Lucas argumentando sozinho e voltou pro quarto, ao entrar encontrou seu filho assistindo enquanto Laura acariciava os cabelos do mesmo.
-Bom dia!- Luan sussurrou se posicionando ao lado dela.
-Oi.- Laura sorriu amarelo.- Onde você estava?
-Fui buscar o celular pro Matheus.- Luan contou, entregando o celular pro filho.
-Obrigado papai.-Matheus sorriu e Luan o acompanhou.
-Já tomou café?
-Não tenho fome- Rosnou.- Pode ir você, seu amorzinho ta la.
-Luan..
-Vai Laura, depois a gente precisa resolver algumas coisas.
-Já contou pra sua família?
-Não tenho coragem.- Luan confessou, virando de costas para seu filho por conta das lagrimas que se formaram em seus olhos.
-Você vai precisar
-Não precisa ser agora.
-E os shows?
-Vou cancelar...
-Mas...
-Nada Lau, é meu filho, ele é prioridade!
-Tudo bem.- Ela concordou.
-Vai comer alguma coisa, ja aproveita pra pegar comida pro Matheus.- Luan falou entregando a carteira pra Laura.
-Eu tenho dinheiro...-Laura negou a carteira
-É pro meu filho, deixa de doce!-Luan colocou a carteira na mão dela.
-Luan...
-Você sabe a senha do cartão!-Ele rosnou e virou de costas pra ela.
-Vou trazer alguma coisa pra você também!
-Não quero!
-Mas eu vou trazer.- ela falou decidida, dando um beijo no rosto do filho e saindo.
-Papai, o que é prioridade?-Matheus perguntou assim que Laura saiu do quarto
-Onde você escutou essa palavra filho?
-Você acabou de falar pra mamãe!
-Tava escutando a nossa conversa é menino?- Luan riu.
-Desculpa.- Ele fez bico.
-Ta tudo bem.- Luan sorriu.- Prioridade é a coisa mais importante, o principal, entendeu?
-Entendi. - Matheus sorriu.- Então eu sou o mais importante pra você papai?- Matheus perguntou e isso mexeu com Luan
-É e sempre vai ser meu anjo.- Luan falou emocionado, dando um beijo demorado na testa do filho.
-Não chora papai.- Matheus falou passando a mãozinha no rosto do pai.
Luan suspirou.
-Papai vai no banheiro, ok?

-Aham.
Luan foi até o banheiro e acendeu um cigarro, para tentar se acalmar.
Enquanto isso, Laura chorava nos braços de Lucas.
-Amor, o Matheus é um meninão forte, ele vai sair dessa.
-E se ele não conseguir?
-Ele vai conseguir. E você vai precisar ser forte também.
-Eu sei. Mas vai ser difícil.- Lucas enxugou suas lágrimas- Agora eu preciso ir. Tenho que levar esse lanche para o Matheus.- ela levantou
-Quer que eu venha buscar você quando o Matheus receber alta?
-Não precisa.
-Tudo bem.
-Obrigada.- ela o abraçou
Laura pegou os lanches e foi para o quarto que Matheus estava.
-Você demorou mamãe.- Matheus reclamou enquanto Laura ajeitava as coisas para Matheus lanchar.
-Desculpa filho. Cadê seu pai?
-Faz um tempão que ele tá no banheiro.
-Eu vou ali chamar ele.
Laura foi até o banheiro, e como a porta não estava trancada, ela entrou.
-Luan o que você tá fazendo?!- ela se assustou ao ver ele fumando- Luan joga isso.
-Laura me deixa em paz.
-Luan não pode fumar aqui. E além disso não é fumando que as coisas vão se resolver.
-É muito fácil falar quando você tem um ombro pra chorar.- Luan deixou escapar
No momento Laura ficou com pena dele, mas então se lembrou do que ele havia falado para ela.
-Então fumar e jogar a culpa nos outros resolve as coisas pra você?!
-Eu disse aquilo sem pensar.
-Não interessa. Agora joga esse cigarro e vai lanchar com seu filho, que está te esperando.
Luan não disse mais nada, apenas fez o que Laura mandou. Nenhum dos dois queria deixar o orgulho de nada, mas a verdade é que eles estavam precisando um do outro mais que nunca.
-Que horas a gente vai ir pra chácara pai?- Matheus perguntou quando estavam no carro, à caminho de casa
-Depois do almoço filho.
-Puts.
-Algum problema Laura?
-E seu meu chefe não me liberar?
-Pede a conta. Afinal nem vai dar pra você continuar nele, não é mesmo?
-O tio Lucas vai ir com a gente?- Matheus perguntou
-Não.- Luan respondeu, e segurou o volante com força, fazendo Laura perceber sua irritação
Luan deixou Laura e Matheus no apartamento de Lucas, e foi para sua casa arrumar suas coisas.
Laura foi arrumar as malas, enquanto Matheus e Lucas almoçavam. Pois ela não estava com nem um pouco de fome.
-Amor vem comer um pouquinho.- Lucas insistia para ela ir almoçar
-Não estou com fome amor.
-A comida tá gostosa mãe. Vem comer?- Matheus disse, e Laura não pode negar
Depois de comer um pouquinho, ela foi se arrumar.

‪#‎Laura‬ On
Assim que terminei de arrumar o Matheus pedi para ele ir pra sala e chamei o Lucas até no quarto.
-O que foi meu amor?- ele me abraçou.
-Eu queria que você fosse junto.- resmunguei, era verdade.
-Ta tudo bem, o Matheus precisa de vocês agora.
-Mas eu preciso de você.
-Lau, vi ficar tudo bem.
-Eu não quero perder o Matheus.
-Eu já falei que você não vai.- ele beijou minha testa, logo após secou minhas lágrimas.- Me liga a hora que você quiser, tudo bem? Vão ser só três dias.
-Eu sei que você não quer que eu vá.
-Eu só tenho medo que você ache que ele é o seu melhor.- Ele falou triste e aquilo me tocou.
-Você é o meu melhor.- segurei seu rosto entre as minhas mãos.- Eu tenho certeza!
-Não Lau, você não tem.- Ele sorriu fraco.- Não esquece de me dar noticias do Matheus, tudo bem?- ele falava baixinho.
-Tudo bem.- sorri fraco.
-Promete pra mim que vai comer?
-Você sabe que eu não tenho fome...- confessei.
-Mas você precisa se alimentar pra poder cuidar do Matheus.
-Tudo bem.
-Eu já liguei pro seu patrão, quando vocês voltarem você assina a demissão...
-Lucas...
-Você precisa se dedicar ao Matheus agora meu amor.- ele me deu um selinho.- Vamos que o Luan já deve estar esperando.
(...)
Até o aeroporto o Matheus foi falando, eu e Luan respondíamos somente o necessário, nós dois preferíamos ver e ouvir ele, do que interagir, ver ele bem, ou demonstrando estar bem, melhorava um pouco nosso ânimo.
-Quando vamos conversar com ele?- Perguntei baixinho, assim que descemos do carro.
-Assim que a gente chegar na chácara.- Luan respondeu e eu concordei.
O jatinho já nos esperava. Luan sentou com o Matheus em seu colo e eu sentei ao seu lado, logo após decolarmos o Matheus já dormiu e o Luan ficou acariciando o rosto dele.
-Eu me arrependo tanto.- ele sussurrou, sabia que estava falando comigo.
-Agora não adianta...
-Eu só queria ter feito tudo diferente, cuidado dele, curtido, vivido com ele todo o meu tempo livre.
-Você ainda acharia pouco.
-Porque seria pouco Laura. Todo o tempo do mundo ao lado dele é pouco, principalmente agora.
-Temos que ser fortes Luan.
-Eu não consigo, esse é o meu problema.
-Você vai ter que superar!
-Superar a noticia que o nosso filho corre risco de vida?- Ele me olhou pela primeira vez, deixando várias lágrimas caírem.
-Por que tinha que ser justo com ele?- indaguei não conseguindo mais segurar as lágrimas.
Luan me puxou pra um abraço, fazendo meu corpo fica bem próximo do nosso filho.
Apesar de eu estar brava e magoada com o Luan, eu sabia que teríamos que deixar nosso orgulho de lado em algum momento, porque agora seria a hora que nós dois mais precisaríamos um do outro, que o nosso filho mais precisaria da gente juntos também.
Assim que chegamos no aeroporto de Londrina um carro nos esperava, mas o Luan tinha a chave.
-E os seus pais?
-Pedi um tempo pra nós, não quero ver eles agora.
-Tudo bem.- concordei.

Durante o trajeto até a chácara, Matheus acabou dormindo. Então ao chegarmos,Luan o pegou com cuidado, para não acorda-lo, e levou para um dos quartos o colocando deitado na cama.
-Que horas é?- perguntei
-São 5 horas.
-Então eu vou começar fazer o jantar, porque ele vai acordar com fome.
Fui para a cozinha, e Luan me acompanhou. Enquanto eu preparava a comida, Luan me observava.
-O que foi Luan?- perguntei incomodada
-Me desculpa pelo o que eu disse?
-Tudo bem.
-Laura é sério. Por favor me perdoa?
-Você precisa pensar nas coisas antes de falar.
-Eu sei... Me perdoa por favor?- ele se aproximou de mim
-Eu te perdoo Luan!
-Mesmo?- ele sorriu sem mostrar os dentes
-Aham.
-Então me dá um abraço?
-Claro! abri os braços, e ele imediatamente me abraçou

Parecia que ele não iria me soltar nunca. Mas após algumas tentativas de me soltar dele, ele se separou vagarosamente de mim. Engoli seco ao ver seus olhos cheios de lágrimas.